O Hype da Inteligência Artificial e a Epidemia da Preguiça: Entre Comodismo e Responsabilidade
A ascensão da Inteligência Artificial (IA) redefine a sociedade, trazendo avanços antes inimagináveis, mas também alimentando ilusões sobre uma vida sem esforço. O hype atual, amplamente promovido por empresas e mídia, apresenta a IA como solução universal para tarefas cotidianas, muitas vezes justificando comportamentos de acomodação e preguiça intelectual. Estudos recentes apontam que o uso indiscriminado de IA, seja em processos educativos, profissionais ou pessoais, pode gerar dependência excessiva, reduzindo a criatividade e o impulso para refletir criticamente (Ahmad et al., 2023; Fan et al., 2024).
A Preguiça Cognitiva como Epidemia
A “preguiça cognitiva” causada pela IA manifesta-se, sobretudo, na tendência de terceirizar decisões e superar o esforço criativo. Pesquisas internacionais mostram que 68,9% dos entrevistados identificam a IA como a principal causa do aumento da preguiça nos hábitos cotidianos, levando à diminuição da autonomia e ao comodismo mental (Ahmad et al., 2023).
Para alunos e profissionais, a facilidade de obter respostas prontas inibe o desenvolvimento de habilidades intelectualmente exigentes (Fan et al., 2024), enquanto o uso acrítico favorece uma “metapreguiça”: o sujeito deixa de questionar, investigar ou confrontar ideias, tornando-se prisioneiro da conveniência digital.
O Contexto Brasileiro
No Brasil, especialistas alertam que a IA pode intensificar uma epidemia de preguiça, prejudicando o funcionamento cerebral de estudantes e adultos, fomentando o conforto e a evitação de desafios reais da aprendizagem e do trabalho (Gazeta do Povo, 2025). Em artigos nacionais recentes, destaca-se a importância de uma abordagem crítica, para que o recurso não se torne justificativa para a inércia, mas potencialize a criatividade e a superação do comodismo (Money Report, 2023; Campo Grande News, 2025).
Desafio Ético e Cristão
A ética cristã e a tradição filosófica desafiam esse panorama: o ser humano é chamado à responsabilidade, ao desenvolvimento de sua inteligência e ao enfrentamento dos limites. Uma fé autêntica rejeita atalhos fáceis e exorta à vivência ativa da dignidade intelectual e vocacional. O uso consciente da IA exige discernimento, intencionalidade e capacidade de resistir à tentação do comodismo.
Referências
Ahmad, S. F., et al. (2023). Impact of artificial intelligence on human loss in decision making, laziness, and privacy concerns. Nature Humanities and Social Sciences Communications, 10, Article 1787. https://www.nature.com/articles/s41599-023-01787-8
Fan, Y., et al. (2024). Beware of metacognitive laziness: Effects of generative artificial intelligence on learning. British Journal of Educational Technology. https://ttim.phbern.ch/wp-content/uploads/2025/02/Brit-J-Educational-Tech-2024-Fan-Beware-of-metacognitive-laziness-Effects-of-generative-artificial-intelligence-on.pdf
Gazeta do Povo. (2025, 24 julho). Mau uso de IA por alunos causa “epidemia de preguiça”. https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/especialista-mau-uso-inteligencia-artificial-estudantes-epidemia-preguica/
Money Report. (2023, 15 dezembro). A inteligência artificial e a preguiça do intelecto. https://www.moneyreport.com.br/agenda-lideres/a-inteligencia-artificial-e-a-preguica-do-intelecto/
Campo Grande News. (2025, 11 julho). Uso de IA pode gerar preguiça cognitiva, apontam especialistas. https://www.campograndenews.com.br/educacao-e-tecnologia/uso-de-ia-pode-gerar-preguica-cognitiva-apontam-especialistas
Texto elaborado por Sancler Miranda para o blog Fronteiras da Fé.